As sequelas do Corona



O ano é 2020, marcado pelo vírus Corona e uma das grandes revelações a respeito da humanidade que no fundo todos nós já sabíamos: não gostamos de coisas difíceis. Em aulas de história já ouvimos falar do famoso embate entre Galileu e o Papa, que sob um ponto de vista mais abrangente representa o embate entre ciência e religião. Neste ano, vimos que na verdade o inimigo era outro: não foi a religião que cegou as pessoas por anos e lutou com unhas e dentes para se manter no poder defendendo o indefensável, mas sim as pessoas que com suas próprias opiniões e visão de mundo que optaram pela versão da Terra no centro de tudo.

É praticamente uma obra de romance poder culpar uma instituição maléfica por tudo que existiu de errado no avanço do conhecimento humano, quando na realidade, a massa populacional é a verdadeira culpada. A narrativa de pessoas inocentes sendo guiadas para a Idade das Trevas não poderia estar mais errada. Foram os camponeses conversando depois do trabalho sobre como Deus é pai e fez o homem a sua imagem e o colocou no centro de tudo e os comerciantes jogando conversa fora na fila pra comprar pão e tirando sarro dos loucos que acham que o Sol poderia ser o centro do nosso sistema. Foi o medo coletivo de tentar lidar com informações que vão contra o que pessoas de confiança lhes disseram.

Aquecimento global e derretimento de gelo nos polos - o mito.
Em 2020, no regime democrático brasileiro (onde existe certa liberdade), vemos pessoas comuns com certezas absolutas sobre temas complicados como biologia, medicina, aquecimento global, etc. Não adianta muito tentar buscar informações de especialistas porque hoje podemos procurar um especialista que diga o que queremos ouvir.  Publicações acadêmicas que a comunidade científica nem leva a sério aparecem em meios de comunicação de massa estratégicamente através de pessoas que nada sabem de ciência, e o que inicialmente era um outro ponto de vista que seria rapidamente descartado se torna uma outra opinião, e em seguida uma alternativa. Existe a chance desse choque de narrativas fazer o cidadão comum tentar aprender mais sobre ciência para poder filtrar sozinho o que é relevante. Existe também a chance que em um futuro não muito distante, as pessoas achem que têm o direito de opinar na comunidade científica, e casos como o do remédio milagroso do câncer voltem a aparecer, talvez com resultados piores.

A lenda do derretimento de gelo nos polos.

Em parte, o meio acadêmico tem um pouco de culpa. Existe pouco esforço em tornar a ciência popular, talvez por falta de verbas, e isso não ocorre somente no Brasil. Só nos resta torcer pra que nunca chegue o dia em que dar resultados não seja o suficiente para justificar a autonomia da comunidade científica.

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